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  • Foto do escritorNara Guichon

Instalação "O mar que não vemos", de Nara Guichon, na Casa Mario Quintana, em Porto Alegre

Atualizado: 20 de jun. de 2022









Tendo como eixo a sustentabilidade, a ética ambiental e a valorização dos saberes artesanais, Nara Guichon (Santa Maria, RS, 1955) construiu, ao longo de cinco décadas, uma trajetória reconhecida nacional e internacionalmente na área do design têxtil. Sua matéria prima fundamental, para a surpresa de muitas pessoas, vem do lixo.


A região em que Nara vive, no sul da ilha de Florianópolis (SC), é caracterizada pela

atividade pesqueira. Foi em 1998, vendo os entulhos que chegavam à orla, trazidos pelas correntes marítimas, bem como as centenas de redes de pesca desgastadas e abandonadas junto ao mar, que ela resolveu se apropriar desse material, convertendo o que estava reservado ao monturo em substância para projetos na área de design e moda sustentável. Há pelo menos quatro anos, no entanto, Nara vem se dedicando exclusivamente às artes visuais. Sem abrir mão das redes de poliamida e dos processos tradicionais que são sua marca, começou a desenvolver estruturas têxteis grandiosas, que escancaram a urgência do socorro à natureza.


O mar que não vemos, instalação apresentada no Jardim Lutzenberger da Casa de Cultura Mario Quintana, em Porto Alegre, evidencia o elemento responsável por cerca de 40% da poluição mundial dos oceanos. Além das redes de pesca, são utilizados sacos plásticos, tecidos rejeitados pela indústria têxtil e mesmo roupas jogadas fora. Um trabalho pautado, portanto, no reaproveitamento e na ressignificação.


Em seu processo criativo, Nara recolhe as redes, lavando-as somente com água e

sabão; o tingimento paulatino, que pode demorar meses ou até mesmo anos,

é feito com pigmentos naturais, como casca de cebola, erva-mate, cúrcuma,

vinagre e terra. Na sequência, adotando a costura manual e o enrolamento de

fios e redes, a partir de arames galvanizados igualmente recolhidos como refugo,

ela cria estruturas orgânicas e polimorfas, em diálogo com formas da natureza.


Inéditas, as obras em exibição assinalam o amadurecimento poético da artista e

encontram, neste espaço, um invulgar acolhimento. Afinal, na casa que honra o

poeta, temos o jardim que homenageia o agrônomo e ecologista José Lutzenberger (1926–2002), incansável em sua luta pela preservação do meio ambiente. Assim como Nara Guichon.


Paula Ramos

Crítica e historiadora da arte, professora do Instituto de Artes da UFRGS



 

Você pode saber mais no site da Casa de Cultura Mario Quintana.

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