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  • Foto do escritorNara Guichon

7 alimentos que impactam negativamente na vida e na igualdade social do planeta


Desmatamento para criação de gado. Foto: Site Eco.

A humanidade e o planeta Terra estão em parceria a milhões de anos (considerando a evolução humana no decorrer deste tempo), mas mesmo assim ainda é incomum termos a consciência de que aqui estamos devido aos recursos naturais que nos são ofertados desde sempre.

Só poderemos permanecer por aqui se mudarmos radicalmente nossa forma de uso e consumo dos recursos que o planeta nos oferta de modo tão generoso e gratuitamente.

A evolução humana pode ser contada sob diferentes perspectivas: domesticação de animais, evolução da agricultura, da arquitetura, das artes etc. Quero focar aqui no que existe de mais vital à espécie humana: a alimentação.

Nossa cultura é baseada no lucro, no ganho a qualquer preço. A maior parte das pessoas não sabe como chegamos a este modelo e muito menos tem consciência de como ele funciona.

Assim sendo, consumimos sem questionar o que nos é ofertado, sem saber sobre sua verdadeira qualidade, sobre como foi produzido, se a propaganda que impulsiona o consumidor a adquirir este ou aquele produto é verdadeira ou não.

Como lucro é o objetivo principal da indústria, os produtos vendidos geralmente escondem por trás de seus rótulos um longo caminho de destruição e de injustiça social. Essa é uma informação pouco divulgada, mas que precisa ser passada adiante.

Neste artigo, vamos discutir alguns dos principais produtos alimentícios que prejudicam o meio ambiente.

Carne


A produção de carne vermelha é uma das principais causas da emissão de gases do efeito estufa. A criação de gado emite enormes quantidades de metano, um gás de efeito estufa que é ainda mais devastador que o dióxido de carbono. Além disso, a produção de carne e laticínios requer grandes quantidades de terra, água e outros recursos naturais.

Já chegamos ao ponto de gastar mais água e nutrientes férteis para a criação de gado do que para alimentar nossas populações. A quantidade de grãos e o espaço usado para produzir carne vermelha superam em muito todos os investimentos mundiais para sanar o problema da fome e da pobreza extrema.

Outro impacto negativo dessa prática é sobre as florestas e matas nativas. A criação de gado é um dos maiores fatores de estímulo ao desmatamento em todo o mundo. No Brasil, boa parte do Cerrado e também da Floresta Amazônica está sendo destruída para dar espaço a mais pastos. O efeito sobre os biomas é devastador. Uma vez transformado em pasto, o solo desmatado se torna impossível de ser recuperado. E quando uma área de produção de gado esgota seus recursos, ela não é reabilitada, mas simplesmente abandonada. O ciclo de destruição de perpetua, deixando para trás um rastro de degradação irremediável.

O resultado é que estamos trocando nossa incrível diversidade natural para dar espaço a mais cabeças de gado.


Produção industrial de aves. Uma prática cruel. Foto: Wikipedia.

Isso sem contar a produção de aves, ovos e seus derivados. A produção de carne branca é uma das indústrias mais cruéis dentro do universo capitalista. Além das condições degradantes a que as aves são submetidas, a indústria descarta os filhotes machos por não oferecerem ovos. Nesse processo, os pintinhos machos são separados e descartados para morrerem ou serem triturados vivos. A BBC Brasil publicou uma matéria impactante sobre essa barbaridade. Confira aqui.

A questão do consumo de carne ainda apresenta um grave problema moral. Não podemos normalizar a ideia de escravizar e sacrificar outras espécies em escala industrial apenas para satisfazer nosso desejo consumista.

Leite e derivados


Cada caixinha de leite esconde um grande processo de violência contra os animais.

Na produção de leite de vaca, muitas vezes, os animais são submetidos a condições degradantes e tratamentos cruéis. As vacas são confinadas em lugares apertados, sem espaço para se movimentarem e sem acesso a luz solar ou ar fresco. Além disso, muitas vezes esses seres vivos são privados de água e alimento adequados.

Outro problema é a forma como é extraído o leite das vacas. Muitas vezes, as ordenhadeiras são utilizadas de forma industrial, visando apenas a alta produção de leite e causando ferimentos e infecções nos úberes das vacas. Não há tempo para cuidados veterinários e os animais considerados improdutivos simplesmente são abatidos.

Isso sem contar a separação de bezerros de suas mães. Bezerros recém-nascidos são frequentemente arrancados de suas mães logo após o nascimento, muitas vezes sem acesso adequado ao colostro e outros nutrientes importantes. Isso causa angústia tanto para a mãe quanto para o bezerro, e pode levar a problemas de saúde para ambos. Como a função do bezerro é apenas estimular a produção do leite, depois que a ordenha é iniciada o bezerro é abatido e transformado em carne.

Essa é uma realidade cruel e pouco conhecida. A ONG Animal Equality Brasil publicou um artigo chocante sobre o mercado de exploração e desrespeito animal em nosso país. Estima-se que cerca de 27 milhões de bezerros sejam mortos todos os anos para o consumo de vitela. Atualmente são quase 16 milhões de vacas exploradas cruelmente para a produção de leite. Confira o relatório aqui.

A ONG Mercy for Animals tem trabalhado ativamente para o fim da crueldade contra os animais. Confira mais sobre o projeto aqui.


Produção de leite. Foto: GreenMe.

É importante ressaltar que a crueldade contra os animais na produção de leite de vaca não é apenas um problema de bem-estar animal. Também pode ter impactos negativos na qualidade do leite produzido e na saúde dos consumidores. Estamos comprando um produto feito sem nenhuma ética e que ainda pode nos fazer mal pela carência de nutrientes básicos. O saldo dessa conta cruel será sempre negativo.

Peixes de água salgada e de água doce

A pesca excessiva e insustentável tem um impacto devastador sobre o meio ambiente. Muitas espécies de peixes são capturadas em quantidades abusivas sem respeitar os períodos de reprodução desses seres vivos. Como resultado, todo o ecossistema fluvial e marinho acaba comprometido, afetando a sobrevivência de outras espécies.

Outra consequência trágica é o aumento desenfreado de resíduos industriais de pesca em nossas águas, principalmente nos mares. As redes de pesca se tornam verdadeiras armadilhas que matam milhares de animais marinhos todos os anos. Os números são estarrecedores: estima-se que anualmente, pelo menos 130 mil focas, tartarugas, baleias e tantos outros seres vivos morrem em decorrência das redes de pesca descartadas no mar.

Também devemos considerar que a pesca industrial é uma atividade imensamente cruel. Estima-se que metade dos peixes e outros seres vivos que são pescados “por acidente” simplesmente são descartados. Esse chamado "descarte", ocorre quando os pescadores capturam peixes que não são de interesse comercial e os jogam de volta ao mar, muitas vezes já mortos ou morrendo. Isso ocorre porque esses peixes não têm valor de mercado e, portanto, não são considerados "úteis" pelos pescadores.

Algumas vezes esses animais morrem por serem jogados de novo ao mar presos nas redes abandonadas. A ONG Mercy for Animals publicou um artigo estarrecedor sobre a prática. Leia aqui.


Pesca predatória. Foto: Fauna News.

Vale saber também que cerca de 85% de todo o plástico presente nos oceanos são oriundos da pesca criminosa. Esse plástico já se encontra disseminado em diferentes cadeias alimentares, incluindo a humana. Já foram encontrados microplásticos em diferentes pescados e alimentos feitos a partir de proteína animal marinha. Ou seja, não estamos apenas sujando os mares, mas também ingerindo plástico de modo inadvertido.

Óleo de palma


O óleo de palma é um ingrediente comum em muitos alimentos processados, como biscoitos, chocolates, sorvetes e produtos de panificação. É considerado um dos óleos comestíveis mais usados do mundo, representando um terço de todos os óleos vegetais consumidos no planeta.

No entanto, a produção de óleo de palma está diretamente associada ao desmatamento, à perda de habitat de animais selvagens e ao esgotamento de recursos naturais. Essa é talvez uma das culturas agrícolas mais violentas do planeta, que estimula conflitos por terras e violência contra povos e comunidades originárias.

A maior parte do óleo de palma é produzida na Indonésia e na Malásia, onde as florestas tropicais estão sendo destruídas para dar lugar às plantações de palma. Isso tem um impacto direto na biodiversidade, pois muitas espécies animais, como os orangotangos, estão perdendo seus habitats. Além disso, a produção de óleo de palma é altamente intensiva em mão de obra, o que muitas vezes leva à exploração de trabalhadores, incluindo a utilização de trabalho infantil.

No Brasil a produção do dendê, uma variedade de palma, tem destruído sistematicamente as florestas do Pará. O uso de agrotóxicos também é outro fator alarmante. Um estudo apontou que 80% das cidades da Amazônia Paraense (onde o dendê é cultivado) apresentaram contaminação por agrotóxicos em suas águas.

O descarte dos resíduos do óleo de palma também é um problema pouco conhecido. O óleo considerado sujo e as sobras das sementes trituradas, muitas vezes são despejados em rios e córregos, impedindo a oxigenação das águas e desencadeando a morte de centenas de espécies.

E saiba que o óleo de palma não faz mal apenas para o planeta. Diversos estudos vêm afirmando que o componente pode favorecer o aparecimento de diferentes tipos de cânceres. Como muitas vezes não há informação sobre a presença do óleo em certos alimentos, estamos ingerindo um composto potencialmente mortal sem o nosso conhecimento.

Soja

A soja é um ingrediente muito usado na alimentação vegetariana ou vegana, mas é preciso saber que ela também é responsável pela destruição de inúmeros biomas. No Brasil, o plantio de soja já destruiu mais de um terço de todo o cerrado. Para se ter uma ideia do tamanho do problema, a área de plantio de soja na região central do Brasil já é maior que todo o território de Portugal.

Esse plantio massivo não poderia ter consequências benéficas. Além do desmatamento e morte massiva de diferentes espécies, estamos assistindo a transformação do cerrado em uma região quase desértica. Aqui fala-se em “deserto verde”, quando a terra perde sua capacidade fértil e só consegue florescer o mesmo tipo de plantio.

A soja também faz parte de um círculo vicioso, uma vez que boa parte de sua produção serve para alimentar diferentes rebanhos. Ou seja, quanto mais bois, mais soja – e vice e versa. Duas das culturas alimentares mais nocivas do planeta estão entrelaçadas pelo capitalismo predatório e a ganância de grandes corporações.

Não bastasse isso, a produção massiva de soja no Brasil também resulta na expulsão de comunidades rurais e na violação dos direitos de povos indígenas. Muitas famílias que vivem do cultivo de pequenas áreas rurais estão sendo retiradas de suas terras para que estas sejam convertidas em espaços de cultivo de soja. O resultado é a pobreza extrema que se alastra ao redor de algumas das cidades mais ricas do país. Uma contradição absurda e que tem se tornado cada vez mais comum.

Baunilha

A ilha de Madagascar, na África, é um dos lugares mais pobres do mundo, mas concentra boa parte da produção mundial de baunilha, considerada a especiaria mais cobiçada do planeta. Esse contraste revela uma história que pouca gente conhece. A baunilha é um dos alimentos mais nocivos ao meio ambiente e também à vida de quem a produz.

A baunilha é um saborizante muito comum em produtos alimentícios, como sorvetes, bolos e biscoitos. A maior parte da produção de baunilha ocorre em Madagascar, onde muitos agricultores dependem da venda de baunilha como única fonte de renda. A planta de onde vem esse insumo não é fácil de ser cultivada, o que obriga os agricultores a derrubar grandes áreas verdes para que a baunilha possa ser plantada em maior escala.


Baunilha em seu habitat. Foto: Vanilla.Ares

Cem quilos de favas frescas de baunilha rendem apenas quinze quilos do produto final para venda. Com a alta procura, o quilo pode custar até 600 dólares, ou quase 3120 reais. Cada planta demora em torno de 5 anos para produzir vagens e depois da colheita são necessários mais dois anos até a próxima safra. Essa baixa produção somada a alta procura fazem do cultivo da baunilha um amplo mercado de trabalho escravo com práticas desumanas.

No Brasil ocorreu um fato absurdo. A famosa Baunilha do Cerrado, usada por comunidades tradicionais e quilombolas, foi registrada como uma marca por um famoso chef de cozinha.

No entanto, a Baunilha do Cerrado é uma espécie ameaçada de extinção devido à perda de habitat e à exploração descontrolada. A coleta ilegal de vagens é um problema sério, que ameaça a sobrevivência da espécie e dos povos que a cultivam.

O que começou como um projeto de incentivo à culinária local do interior de Goiás terminou com a mercantilização de um bem público. Hoje as comunidades que cultivam artesanalmente essa espécie de baunilha estão lutando na justiça para que esse bem natural não se torne apenas mais um produto explorado de modo imoral.


Chocolate


A produção de chocolate é uma indústria global que gera bilhões de dólares todos os anos. No entanto, muitas vezes, por trás do doce sabor do chocolate, está escondida uma realidade cruel e criminosa.

A produção de cacau, o principal ingrediente do chocolate, é conhecida por envolver muitas vezes o trabalho infantil e a escravidão. Em muitos países produtores de cacau, crianças são forçadas a trabalhar em condições desumanas, muitas vezes em fazendas remotas e isoladas do mundo. Elas são privadas de educação, cuidados médicos e condições de vida adequadas. Além disso, muitas vezes são submetidas a trabalho forçado, trabalhando longas horas sem descanso e sem receber um salário digno.

A Organização Slave Free Chocolat estima que 1,6 milhão de crianças estão trabalhando ilegalmente em fazendas de cacau na África, América do Sul e Central e também na Ásia.

O cacau produzido de maneira brutal vem abastecendo empresas como Nestlé, Hershey, Cargill, Cadbury e Mondelēz. Embora haja mais controle contra essa prática, ao longo dos anos pouco ou quase nada foi feito para reverter essa triste realidade.

Além disso, o cultivo indiscriminado também resulta no desmatamento de florestas em todo o mundo. Em Gana e na Costa do Marfim, países da África, mais de 80% das florestas locais foram dizimadas para abrir espaço para os pés de cacau. Esses países, apesar de serem dois dos maiores produtores de cacau do mundo, estão também entre os mais pobres e com maior incidência de trabalho escravo no planeta. Leia mais aqui.

O que podemos fazer

É importante que os consumidores se informem sobre a origem e o processo de produção dos alimentos que consomem e optem por produtos que tenham uma produção sustentável e responsável. Isso não apenas ajuda a preservar o meio ambiente, mas também ajuda a garantir que os trabalhadores envolvidos na produção de alimentos sejam tratados de forma justa e equitativa.

Dê preferência sempre aos alimentos cultivados localmente ou de origem orgânica. Estimule o consumo em feiras, cooperativas ou centros de produção de alimentos regionais, que não usam práticas massivas de cultivo, nem sistemas de exploração desumana de mão de obra.


Cultive, se possível, o hábito de preparar suas próprias refeições, convide filhos, netos a participar a vivenciar o contato com aromas, texturas, sabores, origens e histórias.


Alimentar-se, além de ser uma forma de ativismo político que se exerce diariamente, é uma forma de desenvolvimento e preservação cultural, pois alimentos e receitas são parte da história de cada região. Valorize e dissemine a cultura gastronômica de sua família, de sua cidade, de seu estado. O primeiro passo que podemos dar é nos informar e compartilhar esse conhecimento com outras pessoas.

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