O linho, planta cientificamente conhecida como Linum Usitatissimum, é uma fibra extraída do talo da espécie botânica de mesmo nome.
Na atualidade o linho é produzido em maiores volumes na Europa, em países como Polônia, Bélgica, Romênia, Portugal e Países Baixos. No Brasil sua produção ainda é pequena, mas existe um grande potencial de cultivo da planta, especialmente nas regiões de clima mais temperado, como no Sul do país.
Há pelo menos 8 mil anos o homem faz uso desta resistente e versátil fibra. Os registros mais antigos provam o uso do linho na antiga Mesopotâmia e por todo o Oriente Médio desde os idos de 7 mil antes de Cristo.
Esta fibra tornou-se célebre no Egito, onde passou a ser cultivada em grande escala para suprir a necessidade de luxo dos faraós. Os egípcios utilizavam-no para diversas funções: velas de barco, tendas, cerimônias religiosas e especialmente nas bandagens para mumificação. Considerado material nobre, ele foi usado na maioria das múmias egípcias e envolveu reis e rainhas em seus sarcófagos.
Linho colhido antes do processamento. Fonte: Heddels.
O Novo Testamento cita a fibra em diversos momentos, sendo muito conhecida a passagem onde afirma-se que a túnica de Jesus era tecida em linho sem costuras. Um dos símbolos da fé Católica, o Santo Sudário, é uma peça de linho, na qual acredita-se que esteve envolto o corpo de Jesus Cristo.
Na Europa, este foi o produto que impulsionou a conquista de diversos territórios e teve papel decisivo na expansão dos povos do Norte da África em diversos países. Na região onde hoje encontra-se Portugal foram descobertos vestígios do cultivo e manufatura deste tecido datados de 2500 antes de Cristo.
Como é feito o linho?
No cultivo orgânico o linho é colhido manualmente, sendo arrancado desde a raiz. Desta forma é possível aproveitar a planta em todo o comprimento.
Depois de apanhado o mesmo é ripado, processo em que são separadas as sementes. Após este processo o vegetal passa pelo curtimento e maceração. Nesta etapa a cola natural que une as fibras da planta precisa ser retirada. Contudo, este não pode ser um processo muito intrusivo, caso contrário as fibras são danificadas e o linho perde sua qualidade.
Pedaço de linho encontrado na tumba do faraó Tutancâmon, datado de cerca de 1327 antes de Cristo. Fonte: Museu Metropolitano de Arte de Nova York.
Há diversos tipos de maceração:
Maceração por orvalho: os ramos de linho são dispostos artesanalmente sobre um campo para que o orvalho da noite (ou a chuva fina em épocas especificas) retire naturalmente a cola das fibras. Este processo é talvez um dos mais antigos modos do homem transformar uma planta em fibra para seu benefício e é totalmente sustentável.
Maceração com água fria: neste modo os feixes de linho são postos em água corrente lenta para que, através da ação natural, suas fibras amoleçam e se tornem mais fáceis de manusear. Este é um processo lento e natural que pode durar até vinte dias. Era feito ancestralmente nas margens do rio Nilo, no Egito.
Maceração com água quente: este é um tipo de maceração mais intrusiva e usada em modo industrial. Com o auxílio de tanques com água aquecida os filamentos são mantidos em temperaturas controladas para que as bactérias façam o processo acelerado de maceração. Dura ao todo cerca de quatro dias.
Os métodos de maceração que utilizam compostos químicos não são bem vistos pelos produtores e negociantes, por comprometer a qualidade da fibra e, por consequência, produzirem alto impacto ambiental.
Após a maceração o linho deve ser seco. Este é um processo igualmente delicado, pois caso não seque por completo o linho poderá apodrecer. Se secar demais perderá sua flexibilidade e fiabilidade. O processo mais recomendado é a secagem ao ar livre, garantindo que a fibra mantenha suas qualidades naturais e menor gasto com energia elétrica utilizada em secadores industriais.
No processo artesanal, depois de seco, a fibra passa pelo processo de sedagem. Nesta etapa suas fibras são selecionadas pelo artesão, que desmancha os fios com a ajuda de agulhas, separando as fibras longas das curtas. As fibras longas são o linho propriamente dito, e que ainda passará por diversos processos, como fiação (transformação da fibra em fios) e o tear (a criação do tecido).
Artesãs portuguesas e o trabalho ancestral de manufatura do linho. Fonte: Turismo em Portugal.
Uma fibra versátil e sustentável
Se cultivado da maneira correta o linho é uma fibra 100% sustentável, pois nada de sua composição vira resíduo no meio ambiente. Seu plantio demanda baixa irrigação para ser cultivado e uma vez colhido, suas seus filamentos necessitam por muito pouca ou nenhuma intervenção química.
Tudo no linho é aproveitado, de suas folhas, cascas e flores extrai-se um óleo natural que serve como complemento alimentar, aglutinante, corante e tintura natural. Sua semente (produzida em maior quantidade por um tipo menos fibroso) é muito utilizada por pessoas que buscam alimentação saudável e é conhecida como um poderoso antioxidante. Do caule e raiz extraem-se as fibras que famosas por serem usadas para a composição de novos tecidos e que também é utilizada como material cirúrgico para suturas.
O linho é também um tecido muito resistente e polivalente, podendo ser usado em diversas peças como roupas, acessórios, revestimentos, colchas, bolsas, artigos de cama, mesa e banho e peças de design. A fibra possui ótima absorção e retenção de pigmentos, propiciando uma gama infinita de tramas e alta versatilidade, tanto para vestuário quanto para a decoração.
Apesar de reter bem o calor este é um tecido que respira bem, sendo confortável no toque. Em sua composição natural e artesanal é material ideal para pessoas com alergias a fibras sintéticas.
A grande vantagem do uso do linho é sua característica sustentável. Quando feito do modo artesanal ele é parte de um complexo sistema de plantio, criação e revenda, que sustenta diversas famílias que cultivam. As peças criadas com esta fibra são únicas. Combinam sofisticação, qualidade e respeito ambiental, além de preservar uma cultura milenar.
Linho e meio ambiente
O linho teve e tem destaque não só na história da humanidade, como também na produção e consumo de uma moda mais sustentável.
Campos de linho da Normandia. Fonte: The Organised Gardener.
Trata-se de um tipo de tecido que com o tempo de uso vai ganhando maciez, mantendo suas qualidades e conforto. Desta forma trata-se de um produto natural que nunca perderá espaço no mercado, sendo sempre preferido por pessoas que optam por durabilidade, qualidade e atemporalidade.
O linho pode ser cultivado sem agrotóxicos, principalmente em terras onde seu cultivo já vem de longa data. Ele pode ser plantado ainda em terrenos menos propícios ao cultivo de alimentos, que requerem solos mais ricos, o que faz desta planta uma alternativa ecologicamente correta de produção agrícola.
Muitos classificam erroneamente esta fibra como algo de custo elevado, mas isto não é verdade. Considerando que um metro de algodão pode custar 1/3 do valor de um metro de linho, temos que levar em conta que o linho possui uma resistência e durabilidade no mínimo 27 vezes maior que a do algodão.
Outro fato importante sobre a relação do linho com o meio ambiente é que ele pode ser considerado um dos tecidos mais sustentáveis por não necessitar de aditivos químicos em seu plantio. Desta forma sua produção possui menor impacto ambiental e garante a preservação dos recursos naturais.
Commenti