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  • Foto do escritorNara Guichon

Saiba mais sobre as fibras naturais: algodão

A palavra ‘algodão’ deriva do árabe antigo, al-qutun, que quer dizer “cotão”, ou “pequena bola de pelos”. A expressão surgiu nas primeiras plantações da região da Andaluzia, o que derivou a palavra espanhola “algodón” e outras variações como “cotone” em italiano, “coton” em francês e “cotton” em inglês.


A planta é definida por uma fibra branca, amarelada ou acinzentada, que desenvolve-se ao redor das sementes do Gossypium, da família Malvaceae. Pouca gente sabe, mas o algodão é parente do hibisco e do quiabo.


Uma breve história do algodão


O algodoeiro foi domesticado há pelo menos 4 mil anos, na Península Arábica, e ganhou a Europa através das conquistas mouras, especialmente no sul da Espanha, França e Itália. O Código de Manu, documento indiano do século VII a.C., já citava o algodão como parte da economia dos grandes reinos da Ásia.


Nas Américas, os Incas, Maias e Astecas, desde o início de suas civilizações, usavam a planta para criar diversos artefatos. O Quipo, sistema de contagem dos povos Incas do Peru, usavam fios de algodão como forma de registro contábil e para passar adiante suas lendas e histórias.

Quipo inca feito de algodão. Fonte: Wikiédia.

Os escritos antigos, de antes da Era Cristã, apontavam as Índias como a principal região de cultura da fibra. O Egito, Sudão e toda a Ásia Menor já utilizavam o algodão como produto de primeira necessidade.


No mundo ocidental, o algodão começou a ser produzido em maior escala inicialmente na Era Medieval, durante as cruzadas, período onde as máquinas de fiação e teares foram aprimorados e apresentados a diversos povos durante a expansão da fé cristã.


O algodão no Brasil


Muito antes da chegada dos portugueses, os nativos brasileiros cultivavam o algodão, muito possivelmente sob influência dos povos andinos. Diversos apetrechos eram feitos com esta

fibra, especialmente as redes, artigos religiosos e peças fúnebres. Os índios ainda usavam as folhas e óleos da semente de algodão como cicatrizante.


Ao contrário do que se pensa, os povos indígenas sempre usaram e confeccionaram suas peças de vestuário. No ambiente da floresta, nos períodos de inverno ou durante a noite, as temperaturas podem chegar aos 10°. Para isso, cada tribo desenvolveu seu método próprio de manufatura do algodão, combinando a fibra com as peles de animais e outros filamentos naturais.


No Brasil o conhecido “Ciclo do Algodão” se deu entre o século XVIII e meados do século XIX. Boa parte da produção brasileira alimentou os teares mecânicos ingleses, impulsionando a Revolução Industrial. Na fase colonial, esta fibra foi cultivada com a mão de obra escrava vinda da África. Com o início do ciclo do café o Brasil viveu uma fase de baixa produção do algodão. Já no século XX, houve uma retomada e hoje somos uma das cinco nações que mais produz esta matéria-prima mundialmente.


Atualmente, cerca de 80% do algodão cultivado em nosso país é transgênico e estudos revelam que este tipo de criação pode causar sérios impactos aos biomas a médio e longo prazo.


O algodão nos Estados Unidos


A conhecida “Política do Algodão” foi uma das provas de que esta planta se tornou um dos bens mais valiosos da história humana recente. A plantação de algodão na América e na Índia alimentou as grandes empresas inglesas durante a Revolução Industrial. Este fato deu início ao grande monopólio têxtil global, com marcas que dominam a criação de tecidos e que influenciam o comportamento de milhões de pessoas ao redor do globo.

Escravos trabalhando nas plantações de algodão nos Estados Unidos. Fonte: History.com

Esta fibra foi de extrema relevância social, política e econômica no processo de consolidação dos Estados Unidos como potência mundial. A tal ponto que os confederados americanos usaram o algodão como moeda de troca antes e durante a Guerra da Secessão, no final do século XIX.


A produção de algodão pode ser considerada responsável por um alto impacto social. Na América, os negros dos estados do Mississippi, Alabama e Geórgia (o chamado “cotton belt”), foram explorados e massacrados para a criação dos campos que alimentavam a produção em grande escala. Milhares de vidas escravizadas foram tiradas em nome de um suposto progresso econômico.


Essa lógica se manteve de maneira subliminar na cultura industrial têxtil e ainda hoje o trabalho escravo é muito recorrente neste setor. Também podemos afirmar que a mentalidade da produção industrial do algodão se tornou um dos principais vetores da rápida degradação ambiental, consumindo recursos hídricos, esgotando o solo e poluindo o meio ambiente com resíduos químicos usados no processamento das fibras.


Trabalho escravo


O plantio de algodão é um dos grandes responsáveis pelo trabalho escravo em diversos países. Em nações como Índia, Uzbequistão, Egito e China, boa parte da mão de obra usada no cultivo e processamento desta fibra é de crianças.

Criança indiana trabalhando na colheita de algodão. Fonte: G1 / Reuters.

Em algumas regiões é comum que as crianças trabalhem até 15 horas por dia, sem direito a escola, alimentação digna ou mesmo acesso à saúde ou lazer. Grandes marcas do varejo de roupas já foram indiciadas por associação com o trabalho escravo ao comprarem tecido proveniente de verdadeiros campos de labor forçado.

No Brasil a maior parte do trabalho escravo ainda está ligado ao processamento do tecido, confecção e acabamento de roupas. É de suma importância denunciar esta prática. Caso saiba de alguém ou alguma empresa que explore seus funcionários de modo irregular, o canal de denúncias é o número 100. Pelo portal do Ministério Público do Trabalho também é possível denunciar este crime.


Impacto ambiental


Embora muitas marcas vendam o algodão como fibra ecologicamente correta, a sua produção em grande escala não respeita as regras da consciência ambiental. Esta é uma planta que exige muita água para ser cultivada. Para criar uma tonelada de algodão bruto, são necessários quase 10 mil litros de água. Só a indústria do algodão polui algo em torno de 3 a 5% de todas as águas do planeta. Cerca de 22% de todos os pesticidas que são usados no mundo vão parar em campos de algodão.

Mãos dos colhedores de algodão. Fonte: Sina Web.

Uma simples camiseta de algodão consome quase 4 mil litros de água para ser feita. Uma calça do mesmo tecido pode consumir até 10 mil litros de água – o suficiente para manter um ser humano vivo por 10 anos.


Quando o assunto é tingimento, o algodão também é o grande vilão. Existem mais de 8 mil substâncias tóxicas usadas para tingir, branquear, tratar e modificar as características desta fibra. A maioria desses compostos não é processada pela natureza e são capazes de contaminar água e solo durante décadas.


Um dos exemplos mais impactantes de como a produção irresponsável pode modificar o meio ambiente é o Mar de Aral, na Ásia Central.


Foram preciso apenas 40 anos para que o quarto maior lago do mundo secasse, se tornando num deserto sem vida. O principal motivo foi o cultivo do algodão no Uzbequistão. Para acelerar a produção na região, foram criados sistemas de captação de água dos rios que nutriam o Mar de Aral. O resultado foi desastroso e hoje só restam 10% do que foi um dia um rico bioma.


Como usar o algodão conscientemente


A principal regra para reduzir o impacto da produção do algodão no meio ambiente é mudar os hábitos de consumo. As empresas de fast fashion são as grandes responsáveis pela criação de peças em algodão barato, elaborado com enorme dano ambiental. Dê preferência para tecidos feitos de modo local e com plantações desenvolvidas sem o uso de pesticidas, agrotóxicos e irrigação artificial.


Uma boa alternativa são o algodão naturalmente colorido, obtido através de cruzamento de espécies. Não se trata de fibra transgênica, mas de plantas selecionadas e modificadas usando técnicas de enxertagem. A vantagem deste tipo de fibra é que ela não precisa de tingimentos artificiais.

Exemplos de algodão colorido naturalmente. Fonte: Interweare.

Um estudo mostrou que o algodão cultivado de maneira artesanal se mostrou 46% menos poluente que a planta convencional. Portanto, é possível consumir este produto com menor dano ao planeta.


No Brasil, a produção do algodão orgânico é ainda uma prática familiar e seu incentivo pode fomentar a cultura local. Desta forma, estimulando não apenas os agricultores, mas também artesãos, fiadores, vendedores e criadores de peças de vestuário e artesanato feitas com este material.

 

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