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  • Foto do escritorNara Guichon

Ferros-velhos e a arte de descobrir tesouros descartados


Sempre que me deparo com um contêiner com sobras, erroneamente chamadas de lixo, tenho que conferir. Nesses ambientes de descarte, tenho sempre a certeza de que encontrarei tesouros. Quando não encontro tesouros, fico penalizada ao constatar que muito do que ai se encontra virou "lixo" por determinação de alguns...


Dia desses visitei o ferro-velho do Sr. Lauri, uma caótica e grande maravilha que fica aqui em Florianópolis, no bairro de Rio Tavares. O que descobri nesse local foi um verdadeiro universo esquecido. Elementos, formas, texturas e cores que vão muito além do modelo padronizado de consumo. Uma ilha de objetos singulares aguardando por mentes criativas e visionárias.


A variedade de peças e elementos me fascinam, tesouros valiosos, objetos que estimulam infinitamente a imaginação. Tantas possibilidades, oportunidades, e soluções ali descartadas, esquecidas.



Foto: Renata Gordo.


Uma nova forma de olhar

É urgentemente necessário compreender que absolutamente tudo o que temos veio da natureza. Uma mesa já foi uma árvore, uma barra de ferro já esteve no coração de uma montanha. Dar uma nova utilidade a esses elementos é uma forma de não retirar do planeta mais um naco, uma oportunidade de zelar pelo futuro das gerações presentes e futuras.


Ao decidir ir a um ferro-velho, é preciso se despir do olhar perfeccionista. Reusar é abraçar a imperfeição é fazer história do seu jeito. Bazares, ferros-velhos e lojas de sucata não são como shopping centers, não encontramos ali a lógica da compra compulsiva. É preciso olhar, tocar, sentir, experimentar e abrir espaço para o inusitado. Uma grade antiga pode tornar a ser um portão, um suporte para plantas, uma divisória de ambientes ou o que sua necessidade e criatividade precisar.


O passo seguinte é dar à peça escolhida o seu novo significado. É preciso colocar a mão na massa, combinar elementos e criar do seu jeito e com os seus recursos a peça que sua imaginação ordenar. Lixar, pintar, recompor, refazer.


Se o capitalismo nos orienta a descartar em nome da moda e do lucro, o reuso nos leva por um caminho diferente.


Além do prazer de criar uma peça sua, com sua marca pessoal, reusar pode ser um excelente exercício de criatividade. Nada se compara a sensação de fazer algo com suas mãos, dando um novo sentido ao que estava descartado e quem sabe descobrindo um hobbie ou até uma nova profissão.


É preciso levar essa ideia adiante. Conte aos seus amigos e familiares sobre suas experiências, amplie o seu impacto social e desmistifique a ideia de que só que é novo e embalado é bom.


A utilidade e beleza de um objeto vai muito além das marcas de grife e da massificação. Quando compreendemos isso, nos tornamos agentes plenos de transformação social. Saímos do lugar de meros consumidores e nos tornamos criadores, escrevendo nossa história com mais liberdade e paixão.





Um mundo de oportunidades


A falta de divulgação faz com que os ferros-velhos e espaços de troca estejam sempre abarrotados e estigmatizados como lugares de objetos indesejados. É preciso desconstruir essa ideia. Até mesmo o nome, “ferro-velho” não representa a riqueza que encontramos ali, uma vez que podemos encontrar muito mais do que ferro e coisas inusitadas.


Outro fator que me chama a atenção é que acreditamos que os ferros-velhos são lugares apenas para vender o que não serve mais. Na prática, é possível comprar peças por preços incrivelmente baixos.


Valorizar esses lugares e seus trabalhadores e trabalhadoras é uma forma ética de reduzir o nosso consumo e de reativar o ciclo de vida útil de tantos produtos que podem chegar a durar décadas.


Além de estimular a economia local, estamos fortalecendo uma importante cadeia de profissionais, composta por centenas de catadores e coletores de materiais recicláveis e metais, e colaborando para que dezenas de famílias obtenham seu sustento de modo digno. Além do importante fato de não estarmos saqueando o planeta, que já não tem mais o que nos oferecer.


A regra é simples: menos consumismo, mais consciência. Menos comodismo e mais criatividade. Pensar antes de comprar. Reusar antes de descartar. Estabelecer com o planeta uma relação mais respeitosa retirando dele estritamente o que precisamos.



 


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